A renda: como entender o “dinheiro da família” de forma diferente do “dinheiro da empresa”.
As micro e pequenas empresas geralmente são empresas familiares, isto é, são administradas e operadas pelos membros de uma mesma família. Sua operação costuma ocupar todo o tempo das pessoas, exigindo delas dedicação exclusiva.
Também é normal que a renda dessas pessoas venha exclusivamente dessa empresa familiar. E aí é “que mora o perigo”. É muito comum as pessoas confundirem necessidade familiar de renda com possibilidade de remuneração da empresa para as pessoas que nela trabalham. São duas coisas completamente diferentes.
Então, cuidado! O fato de a família se dedicar à operação da empresa não significa que a empresa conseguirá sustentar a família. A empresa poderá apenas gerar recursos compatíveis com a natureza do negócio, compatíveis com o investimento realizado.
Uma empresa gera dois tipos de recurso para os proprietários:
- Salários para os membros da família que forem empregados da empresa e prólabore para os sócios que nela trabalharem.
- Lucro distribuído aos sócios, após apuração do resultado.
Pois bem, os salários necessariamente nunca devem ser superiores ao que se pagaria para empregados não familiares na mesma função. Além disso, a empresa não deve ser utilizada para empregar familiares cujo trabalho prestado seja desnecessário.
Da mesma forma o pró-labore é o pagamento que o dono ou sócio recebe por trabalhar na empresa. Se o sócio não trabalhar, não deve receber pró-labore. O 24 valor do pró-labore não deve ser superior ao salário pago a um funcionário que desempenhe a mesma função.
Então, em nosso exemplo anterior, suponhamos que a empresa tenha dois sócios que trabalhem ali. Cada um retira mensalmente R$ 1.000,00 como pró-labore.
Todo mês a empresa tem gerado lucro de R$ 3.088,24, é distribuído aos sócios em partes iguais de R$ 1.544,12
Assim, cada sócio recebe da empresa um total de R$ 2.544,12, ou seja, R$ 1.000,00 de pró-labore mais R$ 1.544,12 de lucro distribuído.
Mas esses sócios têm despesas familiares superiores a R$ 4.000,00 cada um.
De onde completarão a necessidade pessoal de renda? Com certeza não será da empresa, pois se retirarem mais dinheiro ela se tornará inviável.
Veja, no entanto, que a empresa de nosso exemplo é muito lucrativa. Ela consegue pagar 10% por mês ao investimento realizado, o que dá para cada sócio R$ 1.544,12 mais o pró-labore. Os sócios não podem dizer que pelo fato de se dedicarem todo tempo à empresa esta tem que suprir a renda desejada de cada um.
Não é assim que funciona. Cada empresa, cada investimento tem um limite de geração de recursos para os sócios, independentemente da necessidade deles.
Consideramos que em nossa empresa fictícia:
- A venda total deve chegar a ………………………………………………. R$ 30.882,40
- O custo variável alcança …………………………………………………….R$19.919,10
- As despesas comerciais alcançam ………………………………………… R$ 3.150,00
- O pagamento das despesas fixas chega a ……………………………… R$ 4.725,00
- Portanto, o total de gastos da empresa chega a …………………….. R$ 27.794,10
Receita de vendas (-) total de gastos, isto é, 30.882,40 – 27.794,10, resulta num lucro de R$ 3.088,30.
Este é o lucro que pode ser distribuído. E, pior, parte do lucro deveria ser reinvestida na empresa em modernização ou expansão. De onde os sócios retirarão mais dinheiro para completar a renda que desejam?
Perceba que se os sócios retirarem mais dinheiro certamente faltará dinheiro para pagar alguma conta. Portanto, alguma conta não será paga. Pode ser que no dia-a-dia isso não seja percebido, se for intenso o fluxo de entrada de dinheiro com as vendas e saída de dinheiro com pagamento de contas. Mas é assim que surge o tal de “rombo” nas contas da empresa. Essa prática em poucos dias gera dívidas sem condição de ser saldadas. Se ocorrer retirada acima do possível nessa empresa que utilizamos como exemplo, certamente:
- Não serão pagos fornecedores, que é uma conta do custo variável, com R$ 19.919,10
- Ou não será pago o aluguel, que é uma conta de despesa fixa, com R$ 4.725,00
- Ou não será pago algum imposto, que é uma conta das despesas variáveis, com R$ 3.150,00.
Qualquer valor retirado a mais para pagar alguma conta da família criará desfalque na empresa, resultando em dívidas. Se as dívidas se acumularem, a empresa será inviável e terá que fechar as portas.
Em resumo, na elaboração do seu plano de negócios, decida sobre a origem da renda familiar de que você vai necessitar. Pode ser que não consiga retirar o que precisa dos resultados de sua empresa, mesmo que seja viável e lucrativa. Se retirar dela mais do que pode dar, você a quebrará em poucos meses.
Entre os vários instrumentos de gestão que você precisará adotar desde o início, para tomar decisões corretas com o dinheiro da empresa, dois são fundamentais: fluxo de caixa e apuração de resultados.
Leia também:
Parte 17 – Retorno sobre o investimento
Parte 16 – Como atrair clientes
Parte 15 – Ponto de equilíbrio
Parte 14 – Ponto de equilíbrio e margem de contribuição
Parte 12 – Aprendendo sobre uma empresa
Parte 10 – Como separar o dinheiro da empresa
Parte 09 – Sequência de custos da empresa
Parte 08 – Custos de uma empresa
Parte 07 – Investimento inicial
Parte 06 – Gastos, custos de uma empresa
Parte 04 – O que considerar em um Plano de Negócio 2
Parte 03 – O que considerar em um Plano de Negócios 1
Parte 02 – Oportunidade de negócio
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